Boss AC, Big Nelo, G2 e Netinho de Paula estiveram entre os artistas que esta sexta-feira defenderam a importĂąncia da disciplina, do foco e da persistĂȘncia na consolidação da carreira musical. Os artistas debateram no encerramento da terceira edição do MOZEFO Young Leaders da FUNDASO.
HĂĄ uma fĂłrmula para o sucesso? A pergunta foi feita pelo apresentador de televisĂŁo Emerson Miranda de vĂĄrias maneiras, na Ășltima sessĂŁo da terceira edição do MOZEFO Young Leaders. A resposta, igualmente, foi dada de vĂĄrias formas ao longo de 110 minutos de debate sobre o tema “O futuro da indĂșstria criativa”. Para Boss AC, nĂŁo existe nem fĂłrmulas e tĂŁo-pouco segredos para o sucesso. O trabalho, a disciplina, a persistĂȘncia e o foco estĂŁo entre os requisitos essenciais no percurso de um artista. Por isso, o rappercabo-verdiano enalteceu imenso que o talento Ă© importante, mas apenas reflecte 10% da questĂŁo. 90% Ă© trabalho. Luta. “Eu nunca tive um discurso de vĂtima, sei que tenho de correr o dobro ou o triplo para chegar ao mesmo lugar. Quando nos fecham as portas, entramos pelas janelas, sempre contornado as dificuldades”.
Intervindo atravĂ©s da Internet, Boss AC, numa sessĂŁo de partilha de experiĂȘncias, o rapperlembrou que a actividade do artista Ă© muito volĂĄtil, com momentos altos e baixos. Assim, aconselhou aos mais novos, quem quiser iniciar-se nas artes deve definir muitas alternativas de subsistĂȘncia. “O meu plano A sempre foi a mĂșsica, mas sempre tive plano B, C, D e por aĂ em diante”, de tal forma que a crise gerada pela pandemia nĂŁo lhe estĂĄ a afectar como o afectaria se apenas dependesse da mĂșsica. “Temos de arranjar alternativas”, e, claro, respeitar algumas regras… Regras, nĂŁo fĂłrmulas de sucesso. Por exemplo, disse o Boss, “nĂŁo revelar tudo. Tenho por hĂĄbito nĂŁo mandar foguetes antes das festas. Quando falo das coisas, jĂĄ as fiz. Pois de contrĂĄrio ainda podemos perder o foco daquilo que queremos”.
Citando o Nobel da Literatura de 1953, Boss AC aconselhou Ă juventude moçambicana a nĂŁo ter receio ao correr atrĂĄs das coisas. “A juventude Ă© a altura certa para errar. Como dizia Winston Churchill, o sucesso Ă© ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo”. Depois, o rapper sublinhou que Ă© igualmente importante o carĂĄcter, atĂ© porque “os filhos nĂŁo fazem o que os pais dizem, mas fazem o que lhe vĂȘem a fazer”.
Na mesma linha de pensamento de Boss AC, Big Nelo realçou algumas questĂ”es. Na percepção do cantor angolano, o problema da juventude Ă© querer ganhar dinheiro hoje, e nĂŁo a vida toda. Com efeito, antes de querer colher o que nem sequer foi plantado, Nelo aproveitou o tempo de antena no MOZEFO Young Leaders para convidar os jovens artistas, sobretudo cantores, a entregarem-se aos desafios, com a consciĂȘncia de que nĂŁo existe sucesso que dura para sempre. “O mais fĂĄcil na carreira musical Ă© subir, manter a carreira Ă© que Ă© mais difĂcil, atĂ© porque o sucesso traz inimigos. Para mim, os jovens mĂșsicos devem aprender a caminhar devagar e a ouvir pessoas mais experientes”.
Embora considere a carreira musical muito complexa, Big Nelo entende que as pessoas devem ter carĂĄcter e respeitar o auge dos outros com os pĂ©s bem assentes no chau. “Nada dura para sempre”, disse vĂĄrias Nelo. “No princĂpio, as pessoas gostam da tua mĂșsica e atĂ© te endeusa. Depois de algum tempo, surgem outros bons autores e a tua mĂșsica passa a ser mais uma mĂșsica. Temos de controlar o ego, respeitar o sucesso dos outros e ter a disciplina sempre. A humildade, saber cair e dizer nĂŁo, muitas vezes, Ă© importante. E acreditar sempre. NĂŁo existe sucesso sem sacrifĂcios”. E tocando na questĂŁo referĂȘncia… “SĂł com grandes referĂȘncias Ă© que haverĂĄ continuidade nos nossos paĂses. Temos de ser referĂȘncia para os mais novos, para que sejamos mais-valia para as nossas comunidades”.
No mesmo debate, esteve G2, que considerou que o sucesso artĂstico dos jovens depende muito do interesse deles na formação e informação, de modo que, quando as oportunidades chegarem, consigam aproveita-las. “NĂŁo acredito em coisas fĂĄceis. Para mim, as coisas dependem de muito trabalho, conhecimento e definição de estratĂ©gias. Devemos procurar ter referĂȘncias e procurar ouvir pessoas mais experientes. Por exemplo, eu jĂĄ liguei para o Dr. Daniel David, numa altura em que a minha vida poderia ir para esquerda ou para a direita. Na altura, precisava de aconselhamento, e ele recebeu-me e foi importante para o que eu estava a passar naquele momento”. AlĂ©m disso? “Temos de potenciar a educação no paĂs, de modo que os jovens sejam capazes de pensar em soluçÔes empreendedoras a mĂ©dio ou longo prazo”.
Como que acrescentando mais elementos Ă abordagem de G2, o empresĂĄrio cultural, Dinho Puro, aconselhou aos jovens a saĂrem sempre da sua zona de conforto, experimentar novas realidades e deixarem-se rodear por boas influĂȘncias. “Devemos nos aproximar Ă s pessoas que nos possam potenciar, porque os jovens, hoje, tĂȘm muito mais facilidades do que os jovens do passado”.
Do Brasil, intervieram o Staff (DJ) e Netinho de Paula. Para o cantor e apresentador de televisĂŁo, quer os velhos, quer os novos autores devem ter a capacidade de apostar nas ofertas tecnolĂłgicas, “porque a tecnologia veio para definir uma nova forma de trabalho, de criatividade e realidade para todos. Eu acredito muito que a juventude actual vai fazer muita revolução”.
A partir de Portugal, Micas Cabral, dos Tabanka Djaz, acrescentou ao debate (que tambĂ©m contou com Valdemiro JosĂ©) a relevĂąncia dos jovens artistas cultivarem bons hĂĄbitos. “Acreditar no que se estĂĄ a fazer e a aproximação Ă s pessoas mais experientes tambĂ©m tem garantido muito sucesso”.
“O futuro da indĂșstria criativa” foi o tema do Ășltimo debate desta terceira edição do MOZEFO Young Leaders, iniciativa organizada pela Fundação SOICO (FUNDASO).
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